quinta-feira, 28 de julho de 2011

Lamentos



Não lamente por mim
As lágrimas, antes da aurora secaram
E poucas lembranças restaram
Do que há muito se foi, enfim.

Não lamente, pois as pétalas ofegantes
que aos seus olhos murcharam
aos meus florescem em campos verdejantes
e o orvalho deslumbraram.

Não lamente a lágrima que não secou
ou a pétala que murchou.
Celebre o raiar do dia
e antes do crepúsculo, a dor torna-se alegria.




Aline M. Gonçalves

terça-feira, 19 de julho de 2011

Grata


Por todos os outros amores negados,
lacerantes rejeições,
dos que restaram tristes emoções
e inconsoláveis olhos de tristeza embriagados.

Por não ter se adiantado
ao meu alcance ou atrasado
posto que preparada ainda não estaria
ou esperá-lo-ia certa de que não tardaria.

Grata por ti, pelo amor que inspira
agrados, sentimentos e poesia.
Supondo felicidade, outro não seria.
Aline M. Gonçalves

sábado, 9 de julho de 2011

Ausência



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes